Eduardo nasceu sem a
mão esquerda
Gravidez, gestação... e o diagnóstico
“Aos 41 anos, já com 2 filhos lindos, eu e meu marido desejávamos muito ter outro bebê, desejo esse que já nos acompanhava há alguns anos, mas que sempre íamos adiando por algum motivo. Anteriormente, cerca de um ano e meio antes, eu tinha sido diagnosticada com um tumor no colo do útero, que acabou sendo retirado através de um procedimento cirúrgico. Como as citologias de rotina apresentavam-se sem qualquer alteração, pedi a opinião da minha ginecologista, se seria sensato ter outro bebê. Na verdade eu gostaria de saber se eu poderia ter outro bebê. Prontamente me foi respondido que sim. Fiquei radiante!
Tudo certinho, começaram as tentativas da vinda do novo mano para os nossos filhotes. Em novembro de 2014 começamos as tentativas para essa gravidez tão desejada, desejo esse realizado em junho de 2015. Foi um dia tão emocionante ver o resultado positivo do teste de gravidez, depois de já ter visto uns 3 ou 4 resultados negativos.
Gravidez confirmada, muito desejada e bem acompanhada. Com 10 semanas de gestação fiz a primeira ecografia. O bebê era pequeno demais, mais ou menos do tamanho da ponta da unha do meu polegar. Mesmo assim, a médica arriscou dizer que não conseguia ver uma das mãos, mas que com 12 semanas de gestação, me diria com mais certeza.
Na verdade não fiz grande caso. Achei que realmente o bebê era pequeno demais para já se antecipar aquele tipo de diagnóstico.
A médica que havia feito a ecografia era uma das melhores a nível nacional, e mesmo assim não fiquei perturbada, embora pensativa. O meu marido ficou mais receoso.
Com 12 semanas fui então fazer uma nova eco. De forma fria, a médica me disse que o bebê não tinha a mão esquerda formada e que poderia confirmar o diagnóstico quase a 100%. Esse “quase” me deu esperanças, mas ao mesmo tempo senti um medo tremendo do que estava acontecendo, e principalmente o porquê de estar acontecendo comigo.”
Por quê? As indagações
“Perguntei o porquê para a médica, que não soube me responder, dizendo que eram coisas da natureza. Achei logo que fosse por causa da minha idade… A médica então me conselhou a fazer amniocentese, para descartar alguma síndrome que estivesse associada à ausência da mão, ou até para descartar outras síndromes que poderiam acontecer por conta da minha idade. O exame ficou marcado para a 18ª semana de gestação.
Com 16 semanas fui à Leiria, cidade de Portugal, para fazer uma ecografia 3D, onde o técnico me disse que realmente havia algo diferente na mão do bebê, embora não lhe parecesse haver uma ausência completa. Ele até me falou que haviam dedinhos… A verdade é que cada vez me sentia mais sensível e não era bem o que eu queria ouvir. Saí de lá chorando.
Meus filhos tentavam me consolar dizendo: “Mãe, não chores, o mano tem a mão fechada“. O pai parecia mais confiante, parecia não ter dúvida: era o que a ecografista dizia e eu deveria me conformar.
Fui então fazer o dito exame na 18ª semana com tanto medo. Não queria perder o meu bebê e não tinha vontade de fazer o exame. Achei que poderia estar pondo em risco a vida de um bebê saudável. Os 3 dias seguintes foram horríveis, com medo de a qualquer momento poder perdê-lo. Tive que fazer repouso absoluto durante esses 3 dias, e fiz. Só me levantava para comer e ir ao banheiro. Duas longas semanas depois, vem o resultado: bebê perfeito e saudável, palavras da doutora. Fiquei tão feliz... e ao mesmo tempo pensando que seacontecesse, talvez, a ausência da mão não seria bem assim. Possivelmente o bebê só estava com a mão fechada nos exames.
Acompanhada sempre pela mesma médica, eram raras as vezes que eu ia à consulta e não via o meu bebê. Ela confirmava sempre que o menino não tinha mão, fazia questão que eu internalizasse bem a situação. Eu dizia sempre: “Doutora, não será apenas mão fechada?!” A médica não gostava que eu argumentasse dessa forma, criando expectativas que não eram verdadeiras segundo seu diagnóstico.
Ainda fiz mais algumas ecografias em 3D, que eram oferecidas como demonstração, para fazer propaganda de alguma clínica, mas que eram muito superficiais e duravam apenas 5 minutos. Nunca me disseram que o menino não tinha a mão esquerda... E eu também não dizia nada. O que eu mais queria era não ouvir isso. Desses exames eu voltava bem e satisfeita, duvidando do que todos os outros me diziam.
As consultas de rotina eram as piores: eu saía sempre chorando. A doutora fazia a ecografia e me dizia, sempre de uma forma fria: "Seu bebê não tem mão".
Teria sido uma gravidez maravilhosa, não fosse a situação da ausência mão do bebê que me trouxe muitos momentos de tristeza, medo, revolta...
A descoberta da ASSOCIAÇÃO DAR A MÃO
“Nunca tinha ouvido falar em brida amniótica, até que uma enfermeira me falou que tudo indicava ser essa a causa da ausência da mãozinha.
Comecei a pesquisar na internet, e através das palavras “agenesia” e “brida”, encontrei a história da menina brasileira Dara... Eu li tantas vezes... lia quase todas as noites... Adormecia chorando. Tinha tanto medo da sociedade, do que poderiam pensar de mim. O que eu tinha feito errado? Tantas perguntas na minha cabeça. Seria pela minha idade? Seria um castigo de Deus? Só me acalmava o mexer do meu bebê, sensação maravilhosa, única, e que há muito já sentia saudades.
Antes de conhecer a história de Dara, eu achava que era só eu... Que era apenas o meu bebê. Sentia-me sozinha. Pensava realmente que eu tinha feito algo de errado na gestação.”
Eduardo vem ao mundo
“Eduardo resolveu nascer com 36 semanas. A bolsa estourou às 4 horas da manhã. Fomos para o hospital. Finalmente, tinha chegado a hora de ver o meu pequenino. No hospital, o médico que me recebeu não concordou com o que estava escrito no meu livro da gravidez: "agenesia de mão esquerda", com a seguinte expressão: "Isso é que vamos ver ", colocando em questão o profissionalismo da médica que me seguia durante toda a gestação e me dando, ao mesmo tempo, esperança de que realmente poderia ter se enganado. Todos aguardavam a chegada do Eduardo.
Após 12 horas de espera, muito bem acompanhada por toda equipe médica, chegou o Eduardo, no dia 21/01/2016, às 20:45h, com 2,800kg e 48 cm. Pensei: “Finalmente vou ver o meu pequerrucho e desvendar o mistério da mão”.
Emoção tão grande, correu tão bem aquele parto. A médica que sempre fez as ecografias levantou o bebê no ar e a dita mãozinha que faltava virada para mim. Disse a médica: "Eu não disse!!??"
Chorei tanto. O meu marido chorou também... Foi tristeza, foi alegria, foi medo... Foi sentimento de culpa….
Eduardo foi colocado no meu peito, dei-lhe os primeiros beijos, cheios de amor por aquele novo ser. E disse: “Amo-te tanto, meu filhote“.
Veio o pediatra dar os parabéns depois de observar o bebê: “Tens um Eduardo lindo” – ele disse. Muito lindo mesmo! O pai emocionado tirou as primeiras fotos. Tudo perfeito!”
Enfrentando o preconceito
“Vieram as visitas. Os olhares piedosos de alguns deixaram-me desconfortável. Queria estar sozinha com o meu bebê. Já em casa, entrei em contato com a Geane, mãe da Dara. Queria saber tudo: como lidar com os olhares das pessoas, como seria o engatinhar, se haveria bullying, se ele seria aceito em um berçário, a reação das outras crianças. Tantas questões, tantas dúvidas, tantos medos... A experiência da fundadora da ASSOCIAÇÃO DAR A MÃO com a história de sua filha Dara trouxe-me consolo e alento. Aos poucos fui me sentindo mais confiante.
Primeiras saídas à rua, tanto receio em não saber lidar com os olhares dos outros, que por vezes dizem palavras que nos magoam tanto: “Coitadinho… É aleijadinho… Nunca vai ser um homem igual aos outros...” Eu só chorava em casa. Foram cinco meses de luto. Preocupação com tudo e, de repente, todos os medos desaparecem. O Eduardo entrou no berçário, foi tudo muito bem e ele foi normalmente recebido.”
Aceitação e adaptação
“A revolta desapareceu. Os olhares já não me incomodavam. Eduardo começou a engatinhar aos 9 meses e a cada dia que passa ele me surpreende mais. Vaidosa e orgulhosa do meu bebê é como me sinto hoje. Vontade de mostrar Eduardo ao mundo. Agradecida a Deus, agradecida à ASSOCIAÇÃO DAR MÃO, completamente feliz.
Eu não mudaria nada no meu bebê. Conheci realidades que desconhecia, tornei-me mais humana, mais atenta, mais controlada, mais agradecida pela vida. Mais preocupada com os outros e muito mais forte. Amo muito mais pessoas e muito mais crianças, desde o momento que a ASSOCIAÇÃO DAR A MÃO fez morada no meu coração.”
AGRADEÇO A DEUS PELA OPORTUNIDADE QUE ME DEU